Estação brasileira vista do navio. Foto: Peter Icciliev

Apesar da enorme variedade de organismos e de um ecossistema rico e diversificado, ainda são poucos os estudos sobre o impacto desses ambientes sobre a saúde dos animais, dos seres humanos, ou sobre o próprio continente e a América do Sul. Ao longo dos quatro anos de duração do projeto, os pesquisadores irão estudar vírus, bactérias, fungos, líquens, micobactérias e helmintos, que podem estar presentes nos animais que vivem ou circulam pela região, nas águas, nos solos, nas rochas e ainda no permafrost, que é um tipo de solo encontrado nas regiões polares e formado por terra, gelo e rochas que estão permanentemente congelados.

O Fioantar integra o Programa Antártico Brasileiro, conduzido pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Cirm), da Marinha do Brasil. O projeto foi aprovado em edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC), em dezembro de 2018. A duração prevista era de quatro anos, a partir de 2019, sendo que em janeiro de 2023 o projeto foi prorrogado até julho de 2024.
 

linha do tempo

Com a chegada, pela primeira vez, à Antártica, a Fiocruz passa a realizar estudos científicos em todos os continentes. Os estudos na região são estratégicos para o Brasil. O país é um dos 28 signatários do Tratado Antártico, que estabeleceu a utilização pacífica do território com fins de pesquisa científica. Além de atuar como regulador térmico do planeta, influenciando significativamente o clima, o continente concentra 70% das reservas globais de água doce e valiosos recursos minerais e energéticos.

Para iniciar os estudos no continente antártico, a partir do Acordo de Cooperação firmado com a Marinha do Brasil, a Fiocruz passou a contar com um laboratório permanente na nova Estação Antártica Comandante Ferraz, inaugurado em janeiro de 2020. O Fiolab é um laboratório de biossegurança preparado para responder às necessidades de vigilância epidemiológica e sanitária do país, e dar suporte às pesquisas em saúde e ambiente na Antártica, sob a perspectiva da interação One Health. A atuação do laboratório será integrada aos demais laboratórios de referência da Fiocruz no Brasil, permitindo o apoio a pesquisas que identifiquem microrganismos presentes no continente com potencial biotecnológico em saúde (novos medicamentos), ambiente (biorremediação) e indústria (novas enzimas industriais), além de oferecer suporte à formação de pesquisadores, futuros especialistas em estudos antárticos para a área da saúde.

 

Com caráter multidisciplinar, o projeto Fioantar apresenta abrangência na proposta de estudo e proporcionará a troca de conhecimentos e colaboração entre os diversos grupos e especialistas não só da própria instituição, como também com parceiros internacionais e nacionais. A pesquisa pela Fundação vai se dividir em duas linhas centrais que buscam investigar riscos e oportunidades que os microrganismos presentes da Antártica podem oferecer para a saúde humana e, assim, produzir respostas relevantes para o Sistema Único de Saúde (SUS).

A primeira linha pretende investigar novos patógenos, como vírus, fungos e bactérias, presentes no ambiente antártico e, com isso, reforçar a vigilância e prevenção epidemiológica em longo prazo. Para isso, a Fiocruz está reunindo pesquisadores de oito laboratórios diferentes, profissionais da área de produção e inovação em saúde, de relações internacionais em saúde, bem como profissionais de comunicação, que irão produzir vídeos, séries especiais para as redes sociais, entrevistas, exposições, dentre outros materiais, para que a população possa acompanhar todos os resultados e desafios desse grande projeto.

A outra importante linha da pesquisa é a bioprospecção. Os organismos extremófilos - que vivem em ambientes extremos - têm em sua constituição moléculas e competências fisiológicas e químicas diferenciadas do que vemos em outros lugares, que foram desenvolvidas ao longo de seu processo evolutivo para lidar com esse ambiente. Os pesquisadores irão buscar identificar quais desses organismos têm potencial para desenvolvimento de novas tecnologias e produtos em saúde, como medicamentos e insumos.

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