Expedição: Quinta expedição

Thiago Parente

Foto: Thiago Parente

 

Depois de uma semana de viagem finalmente teríamos nosso primeiro dia de coleta, no dia 7 de novembro. Só que não!

Ventos de até 120km/h impediram que saíssemos da estação para nossos pontos de coleta. Seria muito perigoso porque ventos assim podem derrubar uma pessoa. Além do mais, pode ocorrer a colisão com pedras, objetos diversos, e até mesmo ter flocos de neve arremessados a mais de 100 km/h nos seus olhos não deve ser nada agradável. Para finalizar a lista de perigos, alguns pontos têm mais de dois metros de neve fofa, que dificultam o caminhar e podem esconder rachaduras no solo. Os alpinistas alertam que uma pessoa pode "desaparecer" se cair numa dessas rachaduras.

Outra equipe de pesquisadores foi até um módulo bem perto da estação, a cerca de 200 metros. Decidi ir com eles para "ver como é". Olha... é brabo! Por vários momentos tivemos que nos jogar na neve "voluntariamente" para não sermos arremessados pelas rajadas de vento. Vários também foram os momentos em que afundei na neve até um pouco acima do joelho. Daí para torcer a perna ou o tornozelo é um pulo.

Mesmo assim, consegui coletar uma amostra de solo e outra de líquen. Consegui também perder meus óculos escuros para uma rajada de vento e quase perder o celular. A previsão do tempo durante nossa estadia na Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) não era das mais animadoras, mas em qualquer brecha que aparecia, eu e Luciana Trilles saíamos para coletar em segurança.

Os dias se passaram com a nossa rotina de trabalho ditada pelas mudanças climáticas. Foram seis dias na EACF, dos quais conseguimos sair para coletar em três. No primeiro dia de coleta, saímos para o módulo Ipanema e paramos também em Punta Plaza. O segundo dia de coleta, fomos de bote para Punta Ullman e para a Geleira Stenhouse.

O último dia de coleta fechou com chave de ouro!

Coleta na pinguineira da ASPA128 (Área de Proteção Especial Antártica, na sigla em inglês) e ainda por cima fomos levados até lá no "gigante vermelho", como é conhecido o Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel. Que navio e que tripulação eficientes! Operação rápida e certeira.

Embarcamos, navegamos por cerca de uma hora, desembarcamos entre a estação antártica polonesa e a ASPA128, subimos a montanha seguindo os pinguins até a pinguineira, coletamos fezes e solo. Muita amostra. Muito pinguim junto. De brinde, duas elefantes-marinhos fêmeas, uma supersimpática e outra gigantesca e não muito amigável.

Descemos a montanha, bote até o navio, navegação de volta até a estação brasileira e almoço. De volta ao FioLab, o trabalho era registrar tudo e fechar o laboratório da Fiocruz até a chegada dos próximos colegas em janeiro de 2023.

Claro que não.

O Grupo Base Orca (os militares que ficam na estação) conseguiu uma nova coleta aos 48 minutos de segundo tempo no remoto Refúgio 2. Saímos de quadriciclo por volta das 15h30, chegamos ao destino em uns 30 minutos, coletamos mais 13 amostras de fezes e três de solo, uma pausa rápida para admirar a beleza desse lugar, mais 30 minutos de quadriciclo e, aí sim, fechamos esse pedaço da Fiocruz na casa do Brasil na Antártica até a chegada dos próximos pesquisadores: minha ex-aluna e agora colega Maithê Magalhães e as pesquisadoras Martha Brandão, Maria Ogrzewalska e Adriana Vivoni.